Leia abaixo trecho de conferência de Múcio Leão sobre Araripe Jr., publicada originalmente no Jornal do Commercio em 28 de agosto de 1955 [De Araripe Jr., a Cultura e Barbárie acaba de editar Raul Pompéia. O Ateneu e o romance psicológico].
A CRÍTICA DE ARARIPE JÚNIOR
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(DO NATURALISMO AO SUBJETIVISMO CRÍTICO)
Conferência feita pelo Sr. MÚCIO LEÃO, no Curso de Crítica da Academia Brasileira de Letras, em 18 de Agosto de 1955
ATIVIDADE DE UM ESCRITOR
A atividade espiritual de Araripe Júnior foi vária. Examinando uma sua ficha bibliográfica, vamos encontrando os seguintes gêneros: o conto, representado pelo seu livro de estréia, os Contos brasileiros, editado ainda no Recife, em 1806; o romance, representado ora pela narrativa histórica, nacionalista ou alencariana, do tipo Jacina, a Marabá, que é uma crônica do século XVI[,] do Reinado [Reino] Encantado e do Cajueiro do Fagundes, ora pela narrativa de tendência mais modernas [sic], preocupada com a análise e o diagnóstico do espírito, como Miss Kate; o estudo social ou histórico, como a conferência relativa ao Papado, ou o ensaio relativo ao papel do terror nas solciedades cultas e, enfim, a crítica.
Nesse último terreno, a bibliografia de Araripe Júnior é complexa e dispersiva a mais não poder. Quem quiser dizer que conhece bem a sua atividade de crítico tem de ler os vários livros do gênero que ele editou: a Carta sobre a literatura brasílica, ensaio que lançou aos 21 anos de idade; o José de Alencar, cuja primeira edição é de 1882, mas que apareceu antes nas colunas do Vulgarizador e nas da Revista Brasileira; o Dirceu, de 1890; o Gregório de Matos, de 1894; o Movimento de 1893 editado em 1895; e o Ibsen, editado em 1911.
São livros todos hoje longamente esgotados. Mas, com o favor das traças, o estudioso ainda os poderá encontrar, numa ou outra biblioteca mais zelosa.
A grande dificuldade no estudo desse escritor começa, porém, agora. Terminada a leitura desses livros, o apaixonado de Araripe Júnior, ou o seu simples leitor, tem de mter-se na Biblioteca Nacional, para tomar conhecimento da vasta obra crítica que ele deixou perdida em colunas de velhos periódicos. É uma tarefa difícil, sem dúvida, mas que não pode deixar de ser encarada, dada a extrema importância que têm muitos desses trabalhos. Enumerarei apenas algumas: o estudo relativo às Enfermidades estilísticas da nova geração, que se encontra nas colunas da Semana, em nove ou dez números do ano de 1886; o ensaio relativo ao Naturalismo e Pessimismo, que se encontra em cinco números da mesma revista, no ano de 1887; o estudo relativo a Terra de Zola e ao Homem de Aluísio Azevedo, que se encontra em 25 números do Novidades de 1888; o estudo relativo ao Ateneu de Raul Pompéia, publicado em 19 números do mesmo Novidades, nos anos de 1888 e 1889; tantos outros ensaios, de maior significação na obra do escritor, aparecidos ainda na Semana, ou então no Almanaque Brasileiro Garnier, ou no Paiz, ou no Jornal do Commercio, ou em alguns outros dos inúmeros lugares em que Araripe Júnior colaborou.
É preciso fazer o reparo de que alguns desses trabalhos são imensamente importantes, não só quando referidos à bibliografia de Araripe Júnior, mas quando referidos à própria cultura brasileira. Dois deles – o estudo relativo a Zola e a Aluísio Azevedo e o estudo relativo a Raul Pompéia – têm, ao que posso julgar, mais importância do que todos os livros de crítica que Araripe editou, salvo evidentemente o Ibsen. Porque este, ao que posso também julgar, é um livro único, na bibliografia do gênero, na língua que falamos.
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